Um passo importante... (p. II)

Na parte I deste post, falei sobre uma decisão importante que tomei em minha vida. Foi um texto longo, pessoal e muito sincero. Esta é a segunda parte, mas somente será possível entendê-la com a leitura da primeira. Para ler a parte I, clique aqui. 


No primeiro post contei sobre minha experiência de ter que decidir por algo muito importante e difícil: A escolha de ter um filho. Ser pai é um sonho para meu namorado, Leandro, mas para mim sempre foi um pesadelo. Contudo, resolvi escutá-lo, conversar com outras pessoas e tentar ver tudo por um novo ângulo. Depois de mais de um ano pensando sobre o assunto, finalmente cheguei a conclusão de que eu também queria ter um filho. É claro que no tempo certo. 


Quando eu enfim tomei a decisão, percebi que eu tinha que contá-la ao Leandro. Ele gastou muito tempo e esforço tentando me mostrar o desejo dele, ele continuaria a se desgastar para isso se eu não revelasse minha mudança de opinião. Eu percebi que se ele continuasse a tentar me convencer e eu continuasse a negar, isso levaria a um desgaste no relacionamento, um desgaste desnecessário, já que tudo tinha mudado.
Eu sei que essa notícia era importante para ele, então eu tinha que bolar um plano para dá-la com toda importância que merece. Minha mente vagou nas mais insanas ideias, mas consegui decidir por uma.


Há muito tempo que eu e ele conversamos sobre casamento, mas uma conversa meio na brincadeira, sem compromisso de verdade, apenas uma conversa divertida de casal. Em algumas dessas conversas ele comentou que queria que eu o pedisse em casamento, assim como a mãe dele fez com o pai, mas é claro que isso está totalmente fora dos planos. Eu sempre pensei que um dia alguém ia me levar em algum lugar romântico, me trataria como uma princesa, me faria uma maravilhosa declaração de amor, se ajoelharia e depois abriria uma caixinha com um anel maravilhoso me perguntando: meu amor, quer se casar comigo?
Ok, ok! Sei muito bem que é uma fantasia de garota, mas não vejo mal nenhum em sonhar, ao menos uma dessas coisas há de acontecer. Por isso o pedido dele não fazia sentido para mim. Porém, ele me deu uma excelente ideia, e foi ela que usei!


Num determinado fim de semana, já estava programado de eu ir dormir na casa dele, porque os pais iam viajar no sábado pela manhã e só retornariam no domingo a tarde, então alguém tinha que ficar lá cuidando da casa. Esses momentos totalmente a sós são raros para nós dois, por isso considerei que aquele era o dia perfeito! No sábado de manhã providenciei tudo que eu ia precisar, tomei um banho, coloquei uma roupa bonita e confortável, passei uma maquiagem leve e charmosa, me perfumei e parti para casa dele.
Foi nesse momento que meu coração começou a bater mais forte, eu sabia o que estava por vir, mas não fazia a menor ideia da reação dele. Ao chegar lá, mostrei a torta de frango que eu tinha comprado para jantarmos - ele adora torta de frango e isso me pouparia o tempo de cozinhar. Ficamos por um tempo na sala, conversando e vendo um documentário sobre animais (é eu sei, isso é muito bobinho, mas foi ótimo).


Depois resolvemos ir até o quarto, para colocarmos um filminho para baixar, afinal eu tinha providenciado a pipoca e nada melhor que um filme a dois para criar um clima ideal. Não precisa ser um filme romântico, eu só precisava garantir que não seria sangrento demais ou triste demais. Enquanto o filme baixava nós fomos jantar, que delícia estava aquela tortinha! Consegui um momentinho de distração dele para ir até o quarto, pegar uma "coisinha" na minha mala e esconder ao lado do sofá, bem no cantinho para ele não ver. Então voltamos para a sala e colocamos num filme qualquer enquanto esperávamos o outro. Acontece que o sofá dele está um tanto quanto desconfortável (os pais dele já compraram outro, mas ainda não chegou), por isso ele pediu para irmos assistir na TV do quarto dos pais dele, onde a cama era mais confortável. É claro que eu não podia negar, mas se fôssemos para o quarto eu sabia que a "coisinha" estaria longe e teria que inventar uma desculpa para voltarmos para a sala depois. Me dei conta que tinha que ser nesse momento, não tinha escapatória. Meu coração disparou!


A= Andressa  L= Leandro


L: Amor, vamos terminar de assistir no quarto? O sofá está machucando.
A: Hum.... - e agora, o que eu faço? Não tinha como fugir - Sim, vamos. Mas antes eu queria conversar com você.
Ele se virou preocupado para mim.
L: Conversar? Ta bom.
A: Desliga a TV - me acomodei no sofá, ficando sentada de frente para ele, mas ainda estava ao lado - Amor, você sabe que eu te amo muito né? Sabe que eu quero sempre te fazer feliz e faço o que for possível para isso, não é? Então. Acontece que eu tomei uma decisão e queria te pedir uma coisa, posso?
L: Pode.
Ele não estava entendendo nada, estava na defensiva, mas ainda assim me ouvindo. E foi ai que aconteceu.... eu travei! Meu nervosismo ficou tão intenso que eu não conseguia mais falar o que eu tinha pensado em dizer, eu não conseguia mais me concentrar no que eu estava fazendo, eu não tinha controle sobre meus movimentos. 
Me levantei com a intenção de pegar a caixinha que estava ao lado do sofá, mas antes que eu percebesse eu já estava sentada novamente ao lado dele com a caixinha na mão, foi muito estranho. Engoli o nervosismo por dois segundos para ao menos me ajoelhar no sofá e ficar de frente para ele, que neste momento parecia muito confuso vendo aquela caixinha na minha mão. Não me lembro de minhas primeiras palavras depois de me ajoelhar, sei que olhei nos olhos dele, cheguei mais perto, estiquei os dois braços segurando a caixinha com as duas mãos de frente para ele.
A: Amor.
Fiz um pequeno momento de silêncio, olhei novamente em seus olhos, depois desviei para a caixinha e com cuidado abri-a devagar. Dei alguns segundos para ele entender que o que estava ali dentro não era uma aliança, nem mesmo um anel de noivado. Depositei ali uma chupetinha de bebê. Me encostei nele e falei com clareza em seu ouvido:  Você aceita ser o pai do meu filho?

Foi assim que pedi o Leandro "em bebê"

Não havia mais forças em mim. O nervosismo tomou conta. Eu não vi a reação dele porque fiquei ali, aninhada em seus braços, escondida em seu pescoço. Apenas percebi que ele ficou sem fala, não me lembro, sinceramente, se ele pronunciou alguma palavra naquele momento. Tudo que sei é que aquele foi um momento único, eu deitei no colo dele e fiquei ali por um bom tempo, eu não conseguia sair, não conseguia falar, minha garganta estava esmagada.
Não sei como, mas quando vi estávamos na cama dos pais dele, apenas deitados um de frente para o outro. Comecei a ficar muito brava comigo mesma, porque eu não tinha conseguido falar o que queria, não tinha conseguido realmente passar para ele toda a ideia que tive para o momento, eu tinha deixado uma nuvem de confusão ali. Comecei a me lembrar de quando ele me deu a aliança de compromisso. Ele tremeu um pouco, ficou nervoso, percebi que eu tinha passado pela mesma coisa, mas com uma intensidade muito maior, porque eu tinha paralisado, ele não. Me poupei por alguns minutos e acumulei toda força que eu tinha para dizer "preciso escrever".


Foi a única saída que encontrei. Eu tinha feito errado no início, mas poderia arrumar tudo. Corri para o computador dele e comecei a digitar desesperadamente tudo que estava engasgado, tudo que me prendia, tudo que eu queria ter feito. Eu escrevi exatamente o que está abaixo (ele salvou o arquivo depois que leu):

Eu queria ter feito uma declaração de amor para você, queria ter dito tudo que sinto de uma forma menos "normal", menos  conhecida. Queria ter conseguido colocar em palavras uma ideia do quanto você é importante para mim, do quanto eu te quero por perto e do quanto sua felicidade é importante.
Eu estava pensando no assunto há muito, muito tempo. Eu sempre disse não ao fato de pensar em um dia ser mãe. Eu não queria. Eu sempre vi como um enorme desafio, uma responsabilidade maior do que posso imaginar. Sempre pensei que a partir do momento que eu tivesse um filho meu amor seria dividido entre os que amo hoje e ele(a). 
Desde que você entrou na minha vida muitas coisas mudaram. Eu sei que, fisicamente, eu já fui mais bonita, mas nunca fui tão confiante, tão certa de meu sucesso quanto sou hoje ao seu lado. O fato de um filho ser importante para você significa que é uma coisa muito importante para mim também. Mas antes era importante só porque você queria. Depois que começou a me mostrar o que pode ter bom nisso eu fui mudando de opinião. Aos poucos fui amolecendo. O livro foi o ponto final, foi a decisão final.
Eu ainda penso que o desafio é grande e que teremos enormes responsabilidades, mas agora vejo também que as coisas boas são bem mais valiosas do que isso. Veja que posso muito bem continuar te amando como hoje, para sempre, sem ter que dividir esse amor. No momento certo meu coração sofrerá uma multiplicação e não uma divisão. Acredito que quando isso acontecer eu serei capaz de duplicar o amor que existe em mim, continuando a amar quem amo hoje e abrindo um espaço novo para essa pessoinha.
Sabe, é muito difícil para mim falar tudo isso, pensar em tudo isso, externar tudo isso. Mas se existe uma pessoa no mundo que me dá confiança é você. Apesar de todos os desafios, sei que passaremos juntos por isso.

Amor, espero que entenda que hoje eu quis elevar um nível em nossa relação. Se você aceitar, quero que pense nisso não mais como um simples namoro, mas como um compromisso selado pelo amor, compreensão e doação. A minha doação total de mim para você.

Eu queria ter feito como um pedido de cas... Mas eu nem tive forças para falar direito, imagine ter forças para me mexer. Eu queria ter dito tudo isso, ajoelhado no chão e lhe pedido gentilmente para me aceitar como a futura mãe de seu filho. Mas o meu nervosismo é tanto que nem mesmo depois eu consegui falar, a voz não saia, eu só consegui escrever, desculpe por isso, mas nem mesmo o choro preso em minha garganta eu consigo liberar.Desculpe, desculpe, desculpe mesmo! Espero que entenda que esse é um momento diferente e muito importante para mim. Tudo que quero mostrar é que eu mudei de ideia, por você, por mim, por nós. Tudo que eu preciso agora é de suas palavras, é frustamente não ter sua reação. Neste momento preciso saber o que pensa, o que achou, o que sentiu... tudo.

E agora quero que leia essa frase com o mais intenso sentimento que nunca leu antes e que tenha certeza absoluta disso: Eu te amo!

Enquanto ele lia, eu fiquei deitada na cama dele, esperando, nervosa. Quando ele terminou, veio bem devagar ao meu lado, pediu para eu olhar para ele e me disse: Já era "para sempre". Agora só é mais forte!
Eu me lembro exatamente dessas palavras, da forma como foram pronunciadas. Então ele me falou o quanto tinha gostado de saber de minha decisão, que eu não precisava pedir desculpas, que eu não tinha feito nada de errado, muito pelo contrário. Ele me reconfortou. Não me lembro de tudo que ele disse exatamente, sei que foi muito importante para mim ouvir dele que minha decisão tinha, de fato, feito diferença para ele, que o deixou feliz. Conforme ele ia falando eu ia me acalmando, meus batimentos diminuíram e ele aguardou calmamente minha garganta se abrir de novo. Eu consegui enfim pronunciar algumas palavras, mas o selinho que demos foi o mais significativo de todos os tempos.

Naquele exato momento eu sabia que tinha tomado a decisão certa, que eu fizera tudo da maneira que deveria ter sido feito, mesmo sendo diferente de meus planos, mas aconteceu como deveria, foi mágico, foi bonito, foi romântico, foi perfeito!

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Curiosidade: No domingo a noite, quando ele estava me trazendo de volta para casa, me perguntou "amor, pode ser a mesma caixinha". Tive que pensar por alguns instantes para entender do que ele estava falando. Na hora fiquei super animada por ele pensar nisso. Respondi que não sabia de nada, que agora o trabalho e os planos eram por conta dele. Mas a caixinha já tem grande significado!
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Esses dois posts gigantes foram escritos pelo mesmo motivo que eu fiz tudo isso para o Leandro, porque existem pessoas importantes em minha vida que eu quero que saibam dessa decisão e desse momento lindo que tive. Quero que saibam exatamente como foi, porque se foi significativo para mim, também é significativo para quem gosta de mim de verdade.
Escrevi pensando nos meus pais, primeiramente. Também para minha família, meus amigos, para a família do Leandro (se algum deles vier a ler) e para as pessoas importantes para ele. Peço desculpas por não ter a capacidade de falar pessoalmente, mas eu tinha medo de travar da mesma forma que travei com ele. Mas eu fiz o meu melhor nestes dois textos e espero que consigam captar minha emoção e felicidade. Agradeço a todos que fizeram parte de minha decisão e dos planos, as pessoas que merecem esse agradecimento sabem quem são. Devo muito a vocês.

A você, pessoa ai do outro lado da tela, que leu com paciência toda essa história, muito obrigada!